segunda-feira, 31 de março de 2014

Medicina dos Afetos

Esse texto de Descartes é um diálogo entre ele e Elisabeth, diálogo esse feito por cartas, e por isso, atravessando diversos momentos vividos pelos dois. O tema principal da conversa é uma dúvida apontada por Elisabeth a respeito da definição de corpo, alma, e a relação entre os dois (sendo esse terceiro o ponto mais discutido). Sendo Descartes um grande pensador e teórico desse assunto, mostrou suas opiniões em suas cartas tentando esclarecer as diversas dúvidas levantadas por Elisabeth.
Descartes afirmou algo que de certa forma confundiu Elisabeth a respeito da alma, pois a colocou como imaterial, sem extensão, atributo dificilmente aceito na época, uma vez que grandes pensadores analisavam apenas o concreto, através de experiências em laboratórios. Mas o pior veio depois, numa análise da relação entre corpo e alma, pois como pode algo imaterial como a alma dominar algo concreto como o corpo? 
A partir disso Descartes passa a relacionar tais pensamentos e aplicá-los à situação vivida por Elisabeth. E esta é a parte mais interessante do texto na minha opinião, pois Descartes aplica a relação de corpo e alma dentro de uma doença que Elisabeth estava enfrentando. Nesse ponto Descartes explica que a alma tem uma grande influencia sobre a doença, pois uma vez que a pessoa está tranquila e realmente confia que a natureza do seu corpo reagirá bem à tal doença, provavelmente ela será curada, mas se ela focar no pensamento de que a doença não pode ser curada e que o natural é que doenças sejam mortais, provavelmente seu quadro se agravará. 
Além disso, Descartes por várias vezes associa o estado de saúde de Elisabeth à sua condição espiritual, afirmando que a febre e as tosses secas que ela tinha eram resultados de um estado de tristeza. Sendo então o remédio mais eficiente a alegria, justamente o oposto ao suposto causador da doença. Nesse ponto Descartes aponta dois tipos de alma: as maiores e as vulgares, sendo as duas diretamente influentes no corpo. No caso das maiores, a pessoa acaba reagindo bem controlando a sua mente mesmo em situações adversas, já nas vulgares, a reação é sempre negativa, de modo que em situações difíceis, a pessoa tende a se desesperar agravando ainda mais o seu problema.
O mais interessante do texto é saber que todas essas conclusões foram tiradas do pensamento e da imaginação de Descartes, indo contra a tendência científica da época que é viva até hoje, onde as teorias só são aceitas depois de testadas e aplicadas ao laboratório. É claro que os métodos científicos são importantes, mas - principalmente em temas abstratos como a alma - é necessário ser um pouco lúdico. Porém é importante frisar que tais conclusões não foram tiradas facilmente, uma vez que Descartes gastou muitas horas pensando, sendo até mesmo necessário sair da agitação urbana e ir para o campo para se aprofundar em seus estudos esvaziando sua mente - no que eu entendo como meditação - para desenvolver suas teorias. 
Por mais que a linguagem seja complicado, e no início o texto seja um pouco difícil de ler, conforme as ideias de Descartes vão desenvolvendo e as dúvidas de Elisabeth vão sendo esclarecidas, percebemos como a definição de algo tão primitivo, como a relação entre alma e corpo, pode ser bem complexa, mesmo sendo esse um assunto as vezes até banalizado por nós.

segunda-feira, 24 de março de 2014

O Lama no laboratório

O texto lido fala de um experimento feito em um praticante de meditação chamado Öser, de naturalidade europeia mas a muitos anos convertido ao budismo. O experimento foi feito por Richard Davidson, em um laboratório nos EUA fundado por ele mesmo. Depois de alguns convites rejeitados por monges mais reservados e conservadores, Davidson mergulhou fundo na pesquisa com Öser e usou os melhores equipamentos para desenvolver seus experimentos.
As pesquisas foram feitas basicamente no cérebro de Öser, sendo analisados as reações dele em diferentes estados de meditação, sob diferentes estímulos. E os resultados foram surpreendentes! Obviamente eram esperados resultados fora do padrão, mas o que foi mostrado superou as expectativas. Öser mostrou quase que um total controle mental em diferentes situações, tanto em reações cerebrais - analisada por máquinas - quanto em reações externas totalmente dominadas pela mente dele através da meditação.
Mas o experimento que particularmente mais me chamou a atenção foi uma espécie de discussão proposta pelos pesquisadores entre Öser e outras duas pessoas que no caso tinham opiniões divergentes à dele, sendo uma das pessoas de comportamento tranquilo, e a outra estressada e agitada, o resultado foi que durante a conversa, Öser conseguiu passar a sua serenidade tanto para a pessoa tranquila quanto para a estressada.
Tais resultados só puderam ser alcançados por Öser depois de vários anos de treinamento em meditação, e conversando com alguns colegas que também leram o texto, pude trocar opiniões a respeito da meditação e seus resultados mostrados através da pesquisa relatada no texto. A conclusão que cheguei foi que qualquer um pode praticar a meditação e enxergar resultados em seu cotidiano, mas dentro da cultura que vivemos no Brasil, sobretudo em Brasília, onde tudo se transforma em uma corrida estressante por dinheiro, seria impossível alcançar os resultados mostrados na pesquisa. Porém todos os que leram o texto ficaram instigados a pelo menos parar um pouco durante o seu dia - como o próprio texto propõe - e refletir, esvaziar a mente, por mais que seja uma prática esquecida e desvalorizada dentro da nossa cultura.